3 de dez. de 2010

Jornal da Tarde 1 de abril de 1985

                                                                            Rock de Brasília, político e existencial

O rock de Brasília começa a conquistar o seu espaço, com uma proposta que, já de início, o destaca da grande maioria dos grupos do eixo Rio-São Paulo. Isto é o que se confirma a partir do albun de estreia do quarteto Legião Urbana 9lançamento EMI-Odeon, produzido por José Emílio Rondeau), com um som cru e direto, próximo do rock pós-punk britânico. As plateias roqueiras que já conheciam o Legião Urbana atraves do sucesso de "Química", gravado pelo Paralamas do Sucesso, ou de suas apresentações ao vivo, podem agora comprovar a força do grupo também nos estudios. Ao contrário das produções que vem podando muito da identidade do rock-tupiniquim, este disco consegue captar e transmitir a essencia da banda do Planalto Central. Se o som traz a forte influencia do rock inglês, e do melhor, por sinal, nas suas letras o Legião Urbana traça um contundente perfil da juventude que cresceu sob a sombra do regime de 64. É o que se comprova na canção "Geração Coca-Cola", um dos destaques do album: "Quando nascemos fomos programados/A receber o que vocês nos empurraram/com os enlatados dos U.S.A., das 9 às 6/(...)/Somos os filhos da revolução/Somos burgueses sem religião/Nós somos o futuro da nação/Geração Coca-Cola" (Renato Russo).
Eles, no entanto, não ficam apenas no registro dos pesadelos de sua geração. Musicalmente, o grupo mostra que o rock tupiniquim ainda vai aprontar muita coisa. O guitarrista Dado Villa-Lobos aparece como uma das revelações no instrumento, com um toque ao mesmo tempo melódico, economico e supereficiente-confiram os sons de "O Reggae" ou "Baader-Meinhof Blues". A cozinha-Renato Rocha (baixo) e Marcelo Bonfá (bateria e percussão)-também não fica atrás, sem deixar cair o ritmo, injeta vigor aos vôos do grupo.Mas a figura central, e decisiva para personalidade do legião Urbana, é Renato Russo (vocal, letras,teclados e violão). Sua voz, empostada e forte, difere de tudo que rola no nosso rock e, num primeiro momento, lembra o velho jovem guardista Jerry Adriani. Felizmente o paralelo com a Jovem Guarda não vai além disso. Suas letras beiram em muitos momentos o niilismo, em outros investem contra o sistema opressivo, mas ele não abre mão também de uma autocritica de sua geração. "A Dança", por exemplo, onde questiona a juventude: "Você é tão moderno/Se acha tão moderno/Mas é igual a seus pais/É só questão de idade/Passando dessa fase/Tanto fez e tanto faz". Jé em "O Reggae", uma contudente crítica da sociedade: "Ainda me lembro aos tres anos de idade/O meu primeiro contato com as grades/O meu primeiro dia na escola/Como senti vontade de ir embora...".
Radicais, coerentes, os rapazes do Legião Urbana abrem uma nova frente para o rock brasileiro, a das posturas politica e existencial. Nem tudo é alienação no mundo do show biz, como pode ser comprovado nesse retrato da juventude, filha da revolução.
Antônio Carlos Miguel

27 de nov. de 2010

A Viajem

No dia 1° de Julho sonhamos que tínhamos voltado há tempos atrás, o ano era (1965) duas tribos de "índios" e anjos dançavam conosco a música urbana. Minutos depois não estávamos lá e sim, era uma grande metrópole, onde meninos e meninas desenhavam com o giz as sete cidades vizinhas.
Pais e filhos queriam saber que pais é esse que está nos livros dos dias, onde a perfeição baseia -se no descobrimento do Brasil. Leila e Natália eram amigas como nos, e ambos tínhamos dezesseis anos, moravam no monte castelo.
Para elas nunca havia tempo perdido pois o mundo anda tão complicado que até as plantas embaixo do aquário pareciam com Daniel na cova dos leões.
Eu sei que Eduardo e Mónica eram para nos como a via láctea onde tinha como alvo principal a musica de trabalho. Quase sem querer nos acordamos e dividimos nossos planos em mil pedaços.
O vento no litoral nos faz viajar com os barcos até o faroeste caboclo. Como sempre longe do meu lado você estava, mas mesmo assim eu continuava esperando por você.
Saiba que quando o sol bater na janela do teu quarto, você verá que soul parsifal. Vamos fazer um filme com ajuda de vinte nove amigos onde a música ambiente é o tema. Em busca de novas aventuras seguimos para cidade de angra dos reis, o paraíso onde Andrea Doria morava. Por enquanto era como se de repente fosse-mos personagens dos muitos filmes de aventuras que trazemos na lembrança.
Pela reserva selvagem eu era um lobisomem juvenil, lá íamos nós, em jipes a céu aberto sentindo o vento, o sol, o rosto a liberdade.
Ainda é cedo, aos poucos um novo mundo foi se revelando diante de nossos olhos, quando você voltar ofereceremos um cenários de cores vivas e ritmos festivos.
Se fiquei esperando o meu amor passar era porque, queria que o Maurício nos acompanhasse a essa viagem cheia de perigo de belezas, alegrias e saudades.
Fim da viagem. Saudade? Momento de celebração diante da generosa LEGIÃO URBANA.
A ela a toda a nossa reverencia e admiração pelo que somos quando sentimos a presença do RENATO RUSSO.
Será que a nossa historia acaba por aqui?
Achamos que não.
Com certeza só acaba em uma outra estação.

22 de nov. de 2010

Entrevista Carlos Alberto Xaulim





Eu entrevistei Carlos Alberto Xaulim quando completaram 25 anos da primeira apresentação da Legião Urbana isso foi no dia 05 de Setembro de 2007. A Legião Urbana se apresentou em Pato de Minas em 1982, show produzido pelo Carlos Alberto Xaulim.
Xaulim como é mas conhecido falou sobre a  apresentação e do tumulto que acabou envolvendo até a policia.

01 Como você teve conhecimento da banda Aborto Elétrico?


Quando resolvi fazer um festival de rock em Patos de Minas, a ideia era
colocar bandas novas, que tivessem um repertório autoral.
Liguei para um amigo em Brasília - Wilsinho- e pedi a ele algumas
sugestões. Ele me indicou várias, dentre elas o Aborto Eletrico.

02 Porque na época eles só se apresentavam em Brasília.

Acredito, que por ser uma banda autoral,ainda não tinham conseguido
a visibilidade necessária, que pudesse gerar convites para se
apresentarem em outras cidades.

03 Quando o Renato disse que o Aborto tinha acabado qual foi a sua
reação?


Olha fiquei surpreso, porque faltavam poucos dias para o evento e a
maior parte da midia já estava no ar. Por outro lado, como a banda
era desconhecida em Patos de Minas, a sua ausência não causaria
maiores problemas. Mas acredito, que o Renato Russo com a sua
sensibilidade percebeu este meu sentimento e, por isso, foi muito
insistente para que colocássemos na mídia que a banda que iria
se apresentar não seria mais o Aborto Elétrico, mas sim a
Legião Urbana. Foi tão firme com essa atitude,
que me impressionou muito e acabou
me convencendo a colocar o nome da Legião Urbana
nos cartazes que ainda não tinham ido para a rua e
também nas chamadas de rádio.

04 Em entrevista a Rede Minas você disse que antes do Renato
cantar Que País é Este ele fez um discurso rigoroso,
você lembra como era esse discurso?


Sim. Falou da situação política e social do país, das desigualdades
sociais que precisavam ser diminuídas e da fraca atuação
dos políticos e que em razão disso, não mereciam
a nossa confiança.
Na sequência conclamou a todos a votarem em branco
nas eleições de Novembro de 1982.

05 E como foi a reação da policia após o discurso, já que havia vários policiais no evento?


Assim que a Legião Urbana desceu do palco, a polícia estava lá para recebe-los. Neste momento, eu não estava presente, mas fui avisado e imediatamente, me desloquei até o posto policial que havia no parque, para tomar pé da situação. Lá chegando, me deparo com uma discussão bastante acalorada entre o chefe do destacamento e o Renato Russo. A polícia acusando o Renato de estar insuflando as pessoas a desordem e desrespeitando as instituições e, o Renato Russo, argumentando dos seus direitos de cidadão e da liberdade de manifestação artística. A temperatura nessa hora ficou alta. Mais uma vez me impressionou a convicção do Renato Russo nas suas ideias. Finalmente, foi feito um acordo com a polícia. A banda não seria presa, mas em contra-partida, teria que ir embora da cidade imediatamente. Como a banda havia ido para Patos de Minas de ónibus regular, e o horário de partida era às 23,00 horas, acabou aceitando o trato e continuou no festival, até a hora da partida para Brasília.

06 Qual foi o tratamento dado à banda, entre a contratação e o show?

Tivemos apenas dois contatos, o primeiro quando liguei para o Renato Russo convidando o Aborto Elétrico para fazer parte do festival Rock no Parque e o outro quando ele me ligou para avisar que o Aborto Eletrico havia acabado e que ele iria se apresentar com a nova banda que acabara de formar: Legião Urbana.

07 E o que rolou depois entre a empresa e a banda?

O ano passado, durante uma entrevista para um jornal de Belo Horizonte, a jornalista me perguntou quantos shows havia feito com a Legião Urbana. Neste momento, me dei conta que havia realizado apenas um: o primeiro. E olha que realizei shows com quase todos os artistas brasileiros de expressão mais de uma vez, como: Paralamas,Capital,Kid Abelha,Barão,Cidade Negra,Biquíni Cavadão,Ultraje,Ira,Lulu Santos,RPM,Roupa Nova e muitos outros. Tenho afirmado que fui apenas um personagem que a história usou para marcar esse encontro da Legião Urbana com Patos de Minas e me colocar como testemunha principal da emissão da "Certidão de Nascimento" dessa que é até hoje a maior banda do Brasil.

08 O que você achou da apresentação da Legião Urbana?

Algumas coisas me marcaram muito.
Um fato pitoresco foi o início do show. O técnico de som - Marcos Amorim - precisa de alguém para passar o som
e o Renato Russo se ofereceu para isso.
Foi tocando, tocando,
chamou o restante da banda e ai anunciou: galera chega mais que o nosso show já começou!
Foi a primeira e única vez que vi um show começar pela passagem de som.
Outro fato que me marcou muito foi quando ele cantou, Que Pais é esse?
Mesmo sendo uma musica inédita o publico cantou com ele o refrão da musica.

09 Esse show não tem nenhum registro dele, para que possa ser aproveitado mas pra frente?

Tenho um amigo - José Roberto Cardoso - que me ajudou muito neste evento, inclusive emprestando parte do equipamento de som, que gravou todo o festival, mas infelizmente essa fita sumiu. Do show mesmo, não temos nenhum registro, a não ser fotos do local do show antes da sua realização.

10 Na sua opinião qual foi o ponto forte e o ponto fraco da Legião Urbana?

O ponto forte da Legião Urbana, era realmente o Renato Russo, uma pessoa muito forte, iluminada, que era capaz de contagiar e iluminar a todos que estivessem do seu lado.

11 A Legião conseguiu empolgar o publico com a sua apresentação?

Mesmo tocando musicas próprias, que, para o publico presente eram totalmente inéditas, a banda agradou muito

14 de nov. de 2010

Os álbuns da Legião Urbana para todos os gostos, para todas as gerações


Somos os filhos da revolução/ Somos burgueses sem religião/ Somos o futuro da nação/ Geração Coca-Cola.
Nas favelas, no senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a constituição/ Mas todos acreditam no futuro da nação /Que país é esse?

Embora tenham sido feitas na década de 80, em um outro momento político e social, essas –e muitas outras – canções da Legião Urbana soam como atuais. E, por isso, elas ainda despertam interesse nas gerações atuais. Não é a toa que os discos da banda – que nunca saíram de catálogo- vendem cerca de 250 mil cópias por ano.
Por isso, é preciso comemorar a iniciativa da gravadora EMI em (re-)colocar nas lojas, no próximo dia 25 de outubro, os oito álbuns de carreira da banda (discos de estúdio) em três formatos diferentes: digipak, caixa de luxo e vinil. São eles Legião Urbana (1984), Dois (1986), Que País é este (1987), As Quatro Estações (1989), V (1991), Descobrimento do Brasil (1993), A Tempestade (1996) e Uma Outra Estação (1997). As novas edições ainda trazem mais de 80 fotos inéditas e textos escritos exclusivamente para esses lançamentos.
A opção pelos três formatos – essa é a primeira vez que toda a discografia de uma banda nacional está disponível dessa forma, ao mesmo tempo – é uma grande sacada. O digipak – aquele formato que lembra as capas dos antigos LP – agrada quem ainda tem o hábito de comprar CD e, quase sempre, podem ser encontradas em preços mais convidativos. Os da Legião vão custar R$ 29, 90, preço sugerido pela gravadora, e podem ser comprados separadamente. Eles também podem ser adquiridos juntos no box que a gravadora chama de “caixa de luxo” por R$ 350.
Mas o grande charme desses relançamentos são os LPs – formato que tem ganhado cada vez mais adeptos. Além de trazer mais fotos, remetem à emoção (para quem viveu isso, claro) de ter nas mãos o disco de sua banda preferida. Claro, hoje em dia você pode ter um CD nas mãos, mas o LP é diferente!
Vale lembrar também que essa é a primeira vez que Uma Outra Estação e A Tempestade, lançados já na era do CD – saem em long play.
Em cada álbum, Christiana Fuscaldo, responsável pelos textos, conta histórias dos bastidores das gravações e ressalta declarações da trupe que ajudam a ilustrar cada momento. Em Dois, de 1986, ela ressalta a inquietude de Renato, destacando a seguinte declaração do poeta: “Ao passo que estamos nos distanciando do referencial externo – governo, política, estado, poluição – neste segundo a gente está superinteriorizando. Não temos mais músicas como Soldado e O Reggae, porque a gente já falou daquilo ali. Não vou ficar a vida inteira falando da escola, agora estamos falando do relacionamento emocional e afetivo das pessoas. No primeiro disco, a gente teve que bater na porta com muita força. Com o segundo, a gente pode falar as coisas sem precisar ficar gritando, porque a porta já está aberta”.
Embora a Legião tenha sido cercada por algumas histórias de brigas envolvendo seus integrantes (e qual banda não briga?), Dado revela, no texto que acompanha o CD Que país é este, que o ambiente de gravação tinha momentos bastante agradáveis, como quando a banda jogava vôlei dentro do estúdio. “Fazíamos uma quadra com fita crepe e três rebatedores, cada um com uma janelinha. Usávamos uma bola dente de leite. Enquanto o pessoal estava mixando o disco no aquário, o campeonato comia solto. Fazia fila no corredor par jogar”.
Os textos também revelam momentos pessoais dos integrantes da Legião.  No encarte de O Descobrimento do Brasil, sexto álbum da banda, está escrito: “A Legião Urbana entrou numa nova fase. Com Renato Russo “tratado” (das drogas) (…) e todo mundo mais otimista, a banda estava se redescobrindo. (…) Muito dos dramas foram celebrados nas letras. Em Vinte e Nove, por exemplo, ele cita seu problema com o álcool: “Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes”. E “Só por hoje” remete ao famoso lema dos Alcoólicos Anônimos, frequentado por Renato”
Talvez os fãs tentem imaginar o que seria o Renato ou o que seria a Legião nos dias atuais. Mas isso não é importante. O mais valoroso é que a obra da banda ainda ecoa com verdade e atinge em cheio as novas gerações.