Legião Urbana, rock e indagação
Filhos da revolução, Renato Russo e Marcelo Bonfá há muito tempo preferiram não silenciar. Corria o final da década de 70, quando estes quatro brasilienses, percebendo uma lacuna na vida cultural do Distrito Federal, decidiram movimentar as noites da cidade: "Própria para qualquer esporte, porque equipada com largas avenidas, parques e quadras, pecava pela ausência de alternativas musicais". A idéia foi criar uma banda. Uma não foram várias, um dia criadas, noutro desfeitas-"nossa atividade era 'bolar' os nomes"-, até o grupo definitivo, o Legião Urbana, principiante, de certa forma, mas elogiado pela crítica especializada.As primeiras experiencias, hoje lembradas com entusiasmo, verdadeiras aventuras pelos espaços brasiliense, frutificaram: o Legião Urbana está lançando o seu LP de estreia e ganha, para marcar a data, três espetaculos, hoje e amanhã, a partir das 23 horas, no Rádio Clube (avenida Pedroso de Moraes 1.036) e domingo, em matinê, na Pool (rua dos Pinheiros, 1.075).
Na opinião de Renato Russo, a trajetoria do grupo, bem como sua concepção, prende-se à formação de seus quatro integrantes e à própria condição de vida no Distrito Federal: "É lá onde tudo acontece, onde se tem acesso às informações, onde o intercâmbio com o Exterior é mais rápido, pela presença dos corpos diplomaticos". O primeiro grupo, batizaram de Aborto Elétrico, espécie de homenagem a uma menina que perdeu o filho quando foi agredida durante uma passeata. A patir daí, sempre ligados a Universidade de Brasília, atentos aos acontecimentos politicos, seus trabalhos chegavam aos pequenos publicos que tinham, marcados por uma reflexão crítica que até hoje confere ao Legião Urbana um lugar especial no Rock Brasileiro. "O Paralamas e o Barão Vermelho abriram caminho..." Eles dizem que berravam tudo o que tinham direito. Renato Russo lembra: "Tínhamos uma música assim: Nas favelas no Senado, sujeira pra todo lado/Ninguem respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da Nação. Depois, vinha o refrão: Que país é Este! Que país é Este!"
Naquela época, saíam à procura de espaço para apresentar. Quando conseguiam-qualquer lugar valia-,distribuíam folhetos com as novas letras das musicas. Encontravam apoio entre os amigos que, como eles, não gostavam de discoteca. Agora, passados alguns anos, o grupo está surpreso com a reação dos públicos paulista e carioca. Na danceteria Mamão com Açucar e no Circo Voador, no Rio, os fãs não só apareceram como cantaram junto, excelente indicador para uma banda cuja as musicas ainda não fazem parte das programações das emissoras de rádio. Em São Paulo, a surpresa não foi menor. No programa de Fausto Silva, da TV Record, o público pedia músicas. Além disso, chamaram a atençaõ da imprensa. Certos de que para fazer rock não é preciso "cantar baby, baby", tambem seguros de suas tendencias para um trabalho mas cerebral, de questionamentos multiplos, não apenas politicos, eles reunem em seu primeiro LP do Rock experimental à balada, do reggae à "pauleira", mas advertem: "Não é new wave, não é heavy, não é punk, É Legião Urbana.
No show, eles vão mostrar todas as faixas do disco, exceto "Por Enquanto", impossivel de se reproduzir ao vivo-"falta o teclado"-além de algumas surpresas, como "Conexão Amazônica", composição cuja a letra, para ser liberada pela censura, há algum tempo atras, teve de ser alterada no trecho em que mencionava drogas, embora, segundo Russo, seja, na verdade, um alerta contra as drogas. As músicas que compoem o LP, da experimental "Soldados" a "O Reggae"-"um reggae wue ficou com um certo ar de núsica grega"-todas as foram selecionadas por eles mesmos-"o bom é que nos deram toda a liberdade"-, reunindo oa mas representativos trabalhos da banda. O resultado final, segundo Renato Rocha, superou todas as expectativas. Para Russo, nem tanto, mas Dado Villa-Lobos justifica a observação do companheiro: "A crítica é boa, mas a gente, como todo artista, está sempre insatisfeito". Eles querem agora tentar uma fusão entre vários gêneros. Russo está de "olho no chorinho".